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Susi Ramstein – Reconhecendo a primeira mulher a experimentar LSD

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Erika Dyck, Ph.D. (Historia), es profesora de la Universidad de Saskatchewan y Cátedra de Investigación de Canadá en Historia de la Salud y la Justicia Social. Erika también es parte de la Junta Directiva de Chacruna y presenta la serie “Women in the History of Psychedelic Plant Medicines".
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Erika Dyck, Ph.D. (História), é professora da Universidade de Saskatchewan e titular da Cátedra de Pesquisa do Canadá em História da Saúde e Justiça Social. Erika também faz parte do Conselho de Administração do Chacruna e apresenta as duas séries "Women in the History of Psychedelic Plant Medicines" e "Global History of Psychedelics".

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Mariavittoria Mangini, Ph.D., FNP, ha escrito extensamente sobre el impacto de las experiencias psicodélicas en la configuración de las vidas de sus contemporáneos y trabajó en estrecha colaboración con muchos de los investigadores más distinguidos en este campo.

Susi Ramstein foi a primeira mulher a tomar LSD. Foi também o primeiro guia psicodélico. Apesar dessas notícias surpreendentes, muito pouco foi escrito sobre esse momento. Ela foi ofuscada por seu famoso chefe, Albert Hofmann, mas Susi realmente teve seu próprio “passeio de bicicleta” e fez suas próprias contribuições para esta história.

Ilustração de Mariom Luna

A assistente de laboratório Hofmann

Nascida na Suíça, em 1922, Susi era filha de um optometrista. Ela e seus dois irmãos cresceram em Basel e, quando adolescente, terminaram a escola na Suíça francesa, onde ela aprendeu idiomas, postura, etiqueta e habilidades domésticas. Naquela época, não se esperava que as meninas frequentassem a universidade rotineiramente, mas Susi se matriculou em um programa de treinamento no departamento de Pesquisa Química Farmacêutica dos Laboratórios Sandoz, sendo a única estagiária. Aos 20 anos, ela se tornou a assistente de laboratório júnior do Dr. Albert Hofmann.

As responsabilidades de Susi nessa função incluíam preparar misturas químicas, analisar amostras e verificar testes. O Dr. Hofmann vinham analisando derivados do fungo Claviceps purpurea, alcalóides do ergot, há vários anos. Ele criou vários compostos relacionados ao ergot, incluindo o LSD-25, sintetizado em 1938 para possível uso como estimulante respiratório ou circulatório. Como a substância parecia causar apenas uma leve inquietação nos animais de laboratório, o experimento foi arquivado. Mas, a percepção de que a substância poderia ter outros efeitos úteis, negligenciados na época,  levou o Dr. Hofmann a ressintetizá-la em 1943.

Ninguém, incluindo o próprio Dr. Hofmann, tem certeza de como aconteceu para que ele involuntariamente entrasse em contato com alguns desses produtos químicos, em 16 de abril de 1943. A partir desse contato, ele experimentou uma “condição não desagradável semelhante à intoxicação”, que ele atribuiu aos efeitos da pequena quantidade consumida. Às 16h20, do dia 19 de abril de 1943, ele bebeu acidentalmente 250 milionésimos de grama da substância em um copo de água. Ele considerou essa dose tão pequena que estava ordens de magnitude abaixo do limiar ativo de outros alcaloides do ergot que ele havia estudado. Seu plano era realizar uma série de experimentos, aumentando gradualmente a dose até que algum efeito mínimo pudesse ser detectado. No entanto, após uma hora, o efeito de 250 microgramas foi perceptível.

O seu palpite um tanto aleatório, ou no mínimo inspirado, sobre o LSD-25 é comemorado como a primeira viagem de ácido, e, por causa dessa descoberta marcante, o Dr. Hofmann passou a ser considerado o padrinho dos psicodélicos.

Além de sua assistente de laboratório, Susi Ramstein, ele não informou a ninguém no laboratório sobre suas intenções, esperando que uma dose tão pequena não fizesse absolutamente nada. “Miss Ramstein” é nomeada como a assistente do experimento no relatório oficial do laboratório do Dr. Hofmann, mas na famosa descrição sobre esta experiência com LSD, publicada no livro My Problem Child, a assistente não é identificada. No original alemão, no entanto, as formas femininas usadas na frase “meine Laborantin, die über den Selbstversuch orientiert war”, indicam que a assistente mencionada é uma mulher.

O primeiro passeio de bicicleta


Como relatado no livro LSD: My Problem Child, Hofmann pediu a sua assistente de laboratório para acompanhá-lo no passeio de bicicleta de 5 quilômetros até sua casa. Durante o caminho, o Dr. Hofmann relatou que sentiu que eles estavam progredindo muito lentamente, mas Susi Ramstein disse a ele que ela teve que pedalar muito para acompanhá-lo, enquanto também o conduzia, pois ele estava experimentando distorções visuais durante o caminho. A esposa do Dr. Hofmann, Anita, estava fora, ela e os filhos tinham ido visitar seus pais em Lucerna. Quando eles chegaram à casa vazia dos Hofmanns, o Dr. Hofmann estava preocupado que seu experimento o tivesse envenenado seriamente. Por isso, pediu a Susi que ligasse para a esposa e buscasse leite na sua vizinha para beber como antídoto. Nas horas seguintes, Dr. Hoffman tinha bebido mais de 2 litros de leite. Quando a vizinha, a Sra. Ruch, trouxe o leite, ela assumiu a aparência de uma bruxa malévola com uma máscara colorida.

Dentro de sua casa, ansioso por ter causado danos permanentes com sua auto-experimentação, o Dr. Hofmann sentiu-se tonto e desmaiou. A mobília familiar de sua casa tinha assumido formas ameaçadoras e se agitavam de forma inquieta. Nenhum esforço mental ou força de vontade parecia alterar essa consciência desagradável.

Susi Ramstein ficou ao seu lado. Ela não conseguiu falar com o médico da família, então chamou um substituto, que após examinar Hofmann não encontrou nada fora do comum. Seus sinais vitais estavam normais e, com exceção da ansiedade, das pupilas dilatadas e da incapacidade de formular uma frase completa, ele parecia perfeitamente bem.

Essa notícia tranquilizou Hofmann, que começou a relaxar e apreciar as imagens visuais, aliviado por provavelmente não estar morrendo ou permanentemente louco. A Sra. Ramstein avisou a Sra Hofman por telefone que o pesquisador havia vivenciado algum tipo de colapso misterioso e ficou com ele até que sua esposa voltasse. Sabemos de tudo isso porque o Dr. Hofmann produziu um relatório de laboratório sobre a experiência e depois a descreveu em seu conhecido livro. Podemos apenas adivinhar os pensamentos e sentimentos da Sra. Ramstein, a primeira pessoa a atuar como guia psicodélica. A noite, quando a Sra. Hofmann chegou, Susi tinha sido capaz de deixar o Dr. Hofmann em um estado de espírito positivo e agradável.

Depois desse experimento audacioso, o Dr. Hofmann relatou sua experiência a seu chefe, Arthur Stoll, e a Ernest Rothlin, diretor do departamento de farmacologia da Sandoz na época. Eles permitiram que os auto-experimentos continuassem cautelosamente, em doses muito mais baixas. Sandoz estava interessada em aprender mais sobre o potencial dessa substância que altera a mente.

Todos os membros da equipe Sandoz do Dr. Hofmann participou de pelo menos um experimento, Susi Ramstein participou de três.

“Wuppertal – Bergisches Strassenbahnmuseum – Essener Verkehrs AG Tw 105 Talbot 1927 Kohlfurter Depo 03” de Daniel Mennerich tem licença CC BY-NC-ND 2.0

A primeira viagem de bonde

Em 12 de junho de 1943, Susi Ramstein, de 22 anos, tornou-se a primeira mulher a tomar LSD. Ela também foi a pessoa mais jovem a ter experimentado a substância, ingerindo 100 microgramas, uma dose maior do que a dos seus colegas de laboratório

Ele achou a experiência prazerosa e os efeitos agradáveis. Após a sua primeira experiência no laboratório, ele pegou o bonde para casa e achou engraçada a aparência dos passageiros e do motorista de nariz comprido. Susi compartilhou seus pensamentos sobre a experiência com seus colegas da Sandoz. Suas percepções ajudaram a determinar os níveis de dosagem para uso médico de LSD. Ele também experimentou algumas das variantes do LSD que o Dr. Hofmann sintetizou, dihidro-LSD e d-Iso-LSD, que pareciam ser menos psicoativos. Cerca de um ano após sua última experiência com LSD, ela deixou o laboratório Sandoz para se casar, mas já havia deixado sua marca na história psicodélica.

Pensar nas experiências de Susi com o advento do LSD requer um pouco de adivinhação, reunindo detalhes descritos pelo Dr. Hofmann e por alguns outros relatos da época. É fascinante tentar adivinhar o que uma jovem Susi Ramstein poderia ter pensado enquanto pedalava ao lado de seu chefe rebelde. De fato, sabemos que ela era uma parceira/assistente extremamente prestativa e observadora. É lamentável que não tenhamos um relato mais completo em primeira mão sobre as experiências de Susi com o  de LSD ou dos seus experimentos subseqüentes com outras substâncias. Mesmo com os poucos detalhes disponíveis, podemos vislumbrar uma jovem altamente curiosa, inteligente e corajosa.

Susi Ramstein Weber, a primeira guia psicodélica e a primeira mulher a tomar LSD, morreu no outono de 2011, vários anos após a morte do Dr. Hofmann. Como em grande parte da história mais antiga do LSD, acidentes inusitados e situações inesperadas desempenharam importantes papéis na maneira como a sua participação e contribuição deve ser lembrada e valorizada. Assim como o dia 19 de abril, “Dia da bicicleta”, se tornou uma data bem conhecida e celebrada para o meio psicodélico, vamos lembrar e celebrar o dia 12 de julho, data em que a coração, o coração e o cérebro dessa jovem mulher entraram para a história psicodélica. 

Este artigo foi publicado originalmente em inglês pelo Instituto Chacruna.

Artigo traduzido por Thayná Bastos.

Arte da capa por Luana Lourenço.

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