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Micologia DIY em um mundo psicodélico

Este ensaio explora a relação entre o recente boom no cultivo de cogumelos DIY (faça você mesmo) e o consumo de cogumelos psicodélicos, à medida que ambos os tópicos se tornam mais populares.

Joanna Steinhardt
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Joanna Steinhardt es escritora, editora e investigadora especializada en ciencia y tecnología y con formación en antropología de la religión. Es doctora en Antropología Sociocultural por la Universidad de California en Santa Bárbara y máster en Estudios Culturales por la Universidad Hebrea.

Joanna Steinhardt é escritora, editora e pesquisadora especializada em ciência e tecnologia com formação em antropologia da religião. Ela tem doutorado em Antropologia Sociocultural pela Universidade da Califórnia em Santa Bárbara e mestrado em Estudos Culturais pela Universidade Hebraica.

Quando perguntei a Ben como ele começou a se interessar por micologia, ele explicou que estava em uma viagem de carro na Califórnia quando parou em uma cafeteria no caminho e viu um livro chamado Mycelium Running na prateleira. “O subtítulo dizia ‘Como os fungos podem ajudar a salvar o mundo’. Eu folheei todas as páginas e fiquei impressionado com as fotos e todas as informações que ele continha. […] Eu já li o livro quatro ou cinco vezes [desde então]”.

O livro é do micologista e empresário Paul Stamets, mais conhecido por dois manuais canônicos de cultivo de cogumelos publicados em 1983 e 1993, respectivamente. Mycelium Running (2005) é uma mistura incomum de prosa mística, explicações científicas secas e instruções práticas. Juntamente com as descrições das aplicações práticas dos fungos, o livro é conhecido por seus épicos capítulos iniciais, que oferecem uma história micocêntrica da vida na Terra, reflexões sobre o “arquétipo micelial” (ou seja, as formações em rede e em espiral) e proposições filosóficas sobre a senciência e a benevolência dos fungos. O livro é um tanto evangélico e, às vezes, cai no que parece ser um testemunho religioso. De modo geral, ele oferece uma visão profundamente ecológica de nossa conexão com o mundo vivo, bem como um argumento convincente para a consciência fúngica, tudo dentro do que parece ser uma estrutura científica.

Cover of Mycellium Running, antecent to DIY Mycology

O encontro casual de Ben com a Mycelium Running intensificou um fascínio já latente pelos cogumelos. Sua primeira introdução aos cogumelos foi alguns anos antes, quando, como estudante universitário no norte da Califórnia, ele começou a cultivar cogumelos psicodélicos para si mesmo e para seus amigos, aprendendo em fóruns e sites on-line. Conheci Ben durante meu trabalho de campo de 2014 a 2017 com uma rede informal de grupos que ensinam micologia aplicada voltada para a comunidade. Ele foi um dos cofundadores da Fungal Alliance of the Bay (FAB) (FAB é um pseudônimo, assim como todos os nomes de pessoas citadas neste artigo), que ensinava o cultivo de fungos e aplicações micológicas para restauração ecológica, como a micorremediação (a biorremediação de toxinas com fungos). O objetivo da FAB era fornecer às pessoas conhecimento prático para cultivar cogumelos para fins alimentares e medicinais, inspirá-las a experimentar aplicações acessíveis de cogumelos (idealmente baratas e fáceis) e criar uma comunidade que tornasse esses projetos coletivos possíveis.

Quando comecei a trabalhar no campo, esse tipo de micologia aplicada de baixa tecnologia era cada vez mais comum entre naturalistas, autodenominados cientistas-cidadãos, biohackers, permaculturistas e outros que trabalhavam na interseção da ecologia e da ciência de baixa tecnologia. Grupos semelhantes – com uma estrutura livre e liderados coletivamente, dedicados à educação informal e à acessibilidade, motivados pelo entusiasmo pelo reino dos fungos e inspirados pelo Mycelium Running – haviam surgido nos Estados Unidos e no Canadá. A primeira Radical Mycology Convergence, uma espécie de cruzamento entre uma conferência, um festival e um acampamento, ocorreu em 2012. Desde então, esse fenômeno cresceu (consulte o livro de Doug Bierend, In Search of Mycotopia, para obter uma visão geral atualizada desse cenário). Ainda não existe um termo fixo para esse movimento emergente, nem para suas práticas tecnológicas improvisadas, nem para sua exclusiva subcultura científica. Alguns o chamam de “micologia radical” (em homenagem a um fanzine e, posteriormente, a um livro de Peter McCoy) ou simplesmente “micologia aplicada”. Eu decidi chamá-lo de “micologia DIY” (faça você mesmo, do inglês do it yourself).

Arte de Trey Brasher.

NO INÍCIO, COMECEI A ME PERGUNTAR SE OS COGUMELOS PSILOCIBINOS NÃO SERIAM UMA ESPÉCIE DE “COGUMELO DE ENTRADA”: UM DIA VOCÊ DECIDE CULTIVAR COGUMELOS MÁGICOS E, QUANDO SE DÁ CONTA, ESTÁ ENCOMENDANDO LARVAS DE FARINHA VIVAS PELA INTERNET PARA ALIMENTAR SEU CULTIVO DE CORDYCEPS.

Desde que comecei a trabalhar na área, fiquei curiosa para saber como os psicodélicos se encaixavam no mundo da micologia DIY. Era fácil identificar cogumelos psilocibinos nas histórias de fascínio micológico das pessoas, especialmente entre figuras públicas como Paul Stamets. Além disso, havia o fato de que Mycelium Running, o livro que inspirou esse movimento, parecia inegavelmente “psicodélico”. No início, comecei a me perguntar se os cogumelos psilocibinos não seriam uma espécie de “cogumelo de entrada”: um dia você decide cultivar cogumelos mágicos e, quando se dá conta, está encomendando larvas de farinha vivas pela internet para alimentar seu cultivo de Cordyceps. Em outras palavras, é uma ladeira escorregadia que vai desde o “noob” micológico (novato, na gíria de cultivadores) até a pessoa que tagarela binômios em latim e faz poesias sobre padrões de crescimento de hifas.

E, de fato, várias pessoas no cenário da micologia DIY (assim como muitos cultivadores de cogumelos em pequena escala que conheci) aprenderam a cultivar cogumelos cultivando o Psilocybe cubensis, o cogumelo psicodélico mais conhecido e mais fácil de cultivar. Contudo, essa não é a realidade de todos e suas relações com os cogumelos psicodélicos variavam. Alguns haviam experimentado cogumelos apenas uma ou duas vezes, enquanto outros tinham um longo histórico de uso; alguns os consideravam puramente recreativos, enquanto outros os usavam para fins explicitamente espirituais ou terapêuticos (ou ambos). Alguns deles rejeitaram categoricamente a ideia de que a experiência psicodélica pudesse fornecer alguma verdade; nas palavras de um integrante da FAB, os cogumelos apenas “confundem o cérebro” (embora, mais tarde, ele tenha acrescentado que são bons para tratar a depressão). Também entrevistei algumas pessoas que nunca haviam tomado cogumelos psicodélicos. Diferenças à parte, todos com quem conversei ficaram encantados com a existência desses cogumelos. Eles gostavam de fazer piadas sobre eles e sobre os estados alterados que geravam, assim como gostavam de contar histórias sobre os cogumelos selvagens gourmet que haviam encontrado em suas últimas incursões.

Essa heterogeneidade foi curiosa para mim porque desmentia uma visão comum dessa narrativa: que a porta de entrada para o fascínio micológico era o consumo de cogumelos psicodélicos. Em outras palavras, que a própria experiência psicodélica catalisaria essa orientação subjetiva. Essa história tinha precedentes em Stamets, que frequentemente alude em palestras (várias das quais estão no YouTube) ao fato de ter aprendido todos os tipos de coisas, tanto técnicas quanto espirituais, com os cogumelos psilocibinos; em Terence McKenna, que falava fantasiosamente sobre transmissões “do cogumelo” em suas famosas palestras; e também remonta aos primeiros dias da psicodelia americana, quando o LSD e a psilocibina eram defendidos como uma forma de comunhão religiosa e como ferramentas de revelação e libertação – ou seja, como drogas que abriam um tipo específico de conhecimento, perspectiva filosófica ou entusiasmo. A história do cogumelo como portal me pareceu um mito no sentido em que Roland Barthes usou o termo: como uma espécie de taquigrafia cultural, um esboço facilmente compreensível, atraente e enganosamente coerente que simplifica processos complexos, ambíguos e muitas vezes contraditórios – nesse caso, como os psicodélicos geram significados específicos em uma cultura.

OS HISTORIADORES ESCREVERAM SOBRE AS INÚMERAS MANEIRAS PELAS QUAIS O LSD E A PSILOCIBINA FORAM USADOS NESSA ÉPOCA: COMO AJUDA PARA ENTRAR NO PRÓPRIO CORPO, SINTONIZAR-SE COM O UNIVERSO, FUNDIR-SE COM A NATUREZA, ENCONTRAR SEU EU MAIS AUTÊNTICO, DESENVOLVER SEU VERDADEIRO POTENCIAL OU LIDAR COM PROBLEMAS COMPLEXOS.

Isso parecia especialmente relevante no contexto da micologia DIY porque, embora possa não ser verdade para trajetórias individuais em todo o mundo, os cogumelos psilocibinos definitivamente forma um catalisador na história dessa subcultura científica única. Como se sabe, os psicodélicos estão entrelaçados com a história regional da Bay Area da Califórnia e do oeste americano desde pelo menos a década de 1960. Eles foram essenciais para o surgimento do movimento ambientalista e dos estilos de vida ecológicos que emergiram da contracultura da época. A própria carreira de Stamets está entrelaçada com essa contracultura ecológica que evoluiu nas últimas quatro décadas. Seus manuais de cultivo e, mais tarde, o Mycelium Running, faziam parte de um novo gênero literário que surgiu após o sucesso fenomenal do The Whole Earth Catalog na década de 1970, que atendia a (e ajudava a criar) um novo entorno ambientalmente consciente. Naquela época, os americanos estavam buscando novas formas de viver, especialmente em relação ao mundo natural e a seus próprios corpos. Eles compravam livros de receitas, livros de “estilo de vida” e manuais de instruções sobre tudo, desde sexo até a fabricação de queijos, partos em casa e (sim) cultivo de cogumelos, para ajudá-los a se tornarem mais “naturais”, “autênticos” e “holísticos” e para aprenderem habilidades práticas (e rentáveis) para uma vida ecológica (Belasco, 2007; Binkley, 2007; Kirk, 2007). Os historiadores escreveram sobre as inúmeras maneiras pelas quais o LSD e a psilocibina foram usados nessa época: como ajuda para entrar no próprio corpo, sintonizar-se com o universo, fundir-se com a natureza, encontrar seu eu mais autêntico, desenvolver seu verdadeiro potencial ou lidar com problemas complexos (Kripal, 2007; Markoff, 2005; Turner, 2006). Entre as décadas de 1970 e 2000, o movimento de retorno à terra, o sucesso do movimento de alimentos orgânicos, a popularização da medicina natural e alternativa e o uso continuado (embora clandestino) de psicodélicos se encaixaram no deslocamento tectônico da religião institucionalizada para formar identidades seculares e “espirituais”.

A prática técnica da micologia DIY também tem suas raízes na psicodelia. A ideia de “mexer” com cogumelos teve origem nos experimentos amadores de entusiastas psicodélicos na década de 1970, que floresceram na internet na década de 1990. Várias técnicas engenhosas e improvisadas para o cultivo de espécies de Psilocybe surgiram nos fóruns de colegas do Reddit, Shroomery e Mycotopia (como já escrevi em outras ocasiões). Esses sites resumem a mistura peculiar de conhecimentos obscuros e acessibilidade populista que caracteriza a micologia do “faça você mesmo”. Esse ethos de abertura e acessibilidade pode ser rastreado até o parentesco próximo da ecologia contracultural com os movimentos de código aberto das décadas de 1980 e 1990, nos primórdios da Internet.

Arte de Mariom Luna.

A CONTRACULTURA ECOLÓGICA TEVE EFEITOS DE LONGO ALCANCE NA CULTURA, NA SOCIEDADE E NA ECONOMIA ESTADUNIDENSES.

A contracultura ecológica teve efeitos de longo alcance na cultura, na sociedade e na economia estadunidenses. Essa foi a “arqueologia do presente” de meu trabalho de campo. Ela se manifestou nos valores de meus interlocutores e nos caminhos que escolheram. Ela moldou suas vocações, hobbies, política, moral e estética, bem como a minha própria. Nesse sentido, seria surpreendente que os psicodélicos continuassem a ser uma presença comum em seus mundos sociais e culturais? Dito isso, esses não eram os psicodélicos do período anterior, codificados como necessariamente transformadores, como um ponto de acesso singular ao conhecimento ou à espiritualidade. Em vez disso, a psilocibina estava apenas indiretamente relacionada ao temor e à reverência que os micologistas DIY sentiam pelo reino dos fungos.

Por exemplo, Oscar, na época com vinte e poucos anos, cresceu procurando chanterelles com seus pais “gastrônomos” no norte da Califórnia antes de se tornar um cineasta experimental e jardineiro de permacultura. Ele me disse que os psicodélicos só influenciaram sua relação com os cogumelos no sentido de que o ajudaram a entender “que o micélio é um fractal”.

E continuou: “Honestamente, é apenas comida. A parte psicodélica foi definitivamente uma parte importante de quem eu sou e do caminho que escolhi, mas o que realmente me manteve com os cogumelos é que sou uma pessoa que gosta de comida. O que acontece com a coleta de cogumelos é que ela faz com que você mergulhe na paisagem de uma forma que outras coisas não fazem… Então, devido ao meu desejo de obter muitos porcini [risos], tive que descobrir o que é um porcini, que é um conjunto complicado de variáveis.”

Quanto ao fato de os psicodélicos serem “uma parte importante” na formação do caminho de Oscar, ele me disse que os via como um meio de produzir uma experiência espiritual, que era uma propensão inata do cérebro humano. Ele explicou que, quando teve uma experiência espiritual usando psicodélicos, entendeu que “todos os organismos são válidos, vivos e interconectados. E todos nós compartilhamos a vida. Nenhum de nós existe em uma bolha separada. Não existe ‘eu’ sem um ecossistema. Não existe ‘eu’ sem árvores, bactérias, montanhas e rios, e não existe ‘eu’ sem toda a… rede”.

Perto do final da entrevista, quando perguntei a Oscar como ele se descreveria em termos de religião, ele pensou por um segundo e depois disse: “Como um ‘naturalista psicodélico’… Eu me sinto em paz e conectado, como se estivesse completo, quando vamos para a floresta”.

De certa forma, a história de Oscar ilustra a experiência psicodélica por excelência e suas repercussões ideais (ou míticas), mas ao mesmo tempo, seu relato revela descontinuidades com o mito cultural. Embora ele atribua um entendimento relacional e biocêntrico às suas experiências psicodélicas, foram os próprios cogumelos, em sua particularidade vital, e a coleta de cogumelos em particular, que chamaram sua atenção. A coleta de cogumelos (assim como o trabalho com plantas) permite que Oscar canalize sua consciência ecológica para uma atividade pragmática. Além disso, a coleta de cogumelos o leva para a floresta, onde ele encontra sustento espiritual.

Fred, um permaculturista de 20 anos, tinha uma história semelhante. Ele se definiu como “espiritual”, o que descreveu como “a percepção de que estou conectado a tudo. […] Como se eu fosse um micro-organismo vivendo na terra, como se tivesse bactérias intestinais dentro de mim”. Quando lhe perguntei se os cogumelos (em um sentido amplo) desempenhavam um papel em sua espiritualidade, ele me disse que havia usado cogumelos psicodélicos para curar um tique crônico e para parar de fumar, e depois acrescentou: “E a coleta de alimentos é uma coisa incrível. É uma conexão muito profunda. Para mim, isso é espiritualidade em poucas palavras: é conexão.”

“CONEXÃO”: SE HÁ UMA PALAVRA QUE RESUME O SIGNIFICADO CULTURAL DA PSILOCIBINA, TALVEZ SEJA ESSA. “CONEXÃO” TAMBÉM RESSOA PROFUNDAMENTE COM O SIGNIFICADO EMERGENTE DOS COGUMELOS: A FORMA FÍSICA REAL DO MICÉLIO É LITERALMENTE UMA REDE VIVA E INTERSTICIAL.

“Conexão”: se há uma palavra que resume o significado cultural da psilocibina, talvez seja essa. “Conexão” também ressoa profundamente com o significado emergente dos cogumelos: a forma física real do micélio é literalmente uma rede viva e intersticial. Embora essa ressonância possa ser muito profunda, quando Oscar e Fred falaram sobre os encantos do reino dos fungos, eles não mencionaram a psilocibina, mas sim a busca por alimentos, bem como a simples observação e o aprendizado da vida dos fungos. Esse sentimento era comum entre os micologistas DIY de todas as gerações. O próprio Stamets descreveu as florestas antigas de Washington como a “igreja” dele e de sua esposa (Stamets, 2008). Como atividade, a coleta de alimentos requer foco mental e pragmatismo. Requer atenção e sintonia com esse “conjunto complicado de variáveis” (nas palavras de Oscar) que permite que os cogumelos se desenvolvam. A antropóloga Anna Tsing chama esse aspecto da coleta de cogumelos de “a arte de perceber” (Tsing, 2015). É um tipo de relacionamento intencional com a vida não humana.

Em sua etnografia sobre pesquisadores psicodélicos, Nicolas Langlitz descreve uma forma de “biomisticismo” que é compatível com a ciência moderna e que toma como “seu ponto focal espiritual […] não os estados mentais extraordinários gerados pelas drogas alucinógenas, mas sim a existência comum à qual o autoexperimentador acaba retornando” (Langlitz, 2012, p. 110). Isso também se aplica à micologia DIY. Os “estados mentais extraordinários” da psilocibina não eram o foco de seu fascínio pelos cogumelos, mesmo que fossem historicamente significativos para a evolução cultural e técnica da prática. Em vez disso, muitas das pessoas que conheci consideravam a psilocibina como apenas um entre a miríade de elementos alucinógenos do reino dos fungos. Nas palavras de Fred: “Entender que os cogumelos psicodélicos existem é a pedra angular da incrível natureza dos cogumelos e dos fungos em geral. Quero dizer, se você não sabe nada sobre eles, pelo menos sabe que eles podem matá-lo ou deixá-lo louco [risos], sabe?” A psilocibina era apenas outra dimensão do poder transformador, às vezes desconcertante, dos cogumelos.

OS “ESTADOS MENTAIS EXTRAORDINÁRIOS” DA PSILOCIBINA NÃO ERAM O FOCO DE SEU FASCÍNIO PELOS COGUMELOS, MESMO QUE FOSSEM HISTORICAMENTE SIGNIFICATIVOS PARA A EVOLUÇÃO CULTURAL E TÉCNICA DA PRÁTICA.

Desde uma perspectiva histórica, os cogumelos psicodélicos foram gradualmente englobados por uma série de compromissos com o reino dos fungos, alguns deles relativamente novos na história humana, outros verdadeiramente antigos. E em um sentido muito mais amplo, os psicodélicos foram adotados por uma gama crescente de práticas ecológicas que fundem a ecologia como espiritualidade com a ecologia como disciplina científica. Os psicodélicos não são mais um caminho privilegiado para esse tipo específico de espiritualidade, mesmo quando essa espiritualidade parece ser exclusivamente “psicodélica”. Hoje, todas essas práticas psicodélicos, forragem, sistemas alimentares sustentáveis e outras coexistem em uma rede de possibilidades culturais próximas na qual os micologistas DIY vivem e se movem. Essas práticas não eram lineares; em outras palavras, os cogumelos psilocibinos não necessariamente inspiravam as pessoas a se envolverem com o reino dos fungos e, se as pessoas adotavam uma espiritualidade de conexão, ela era muitas vezes promulgada e infundida em todas essas atividades e interesses. Os psilocibinos psicoativos podem ser um “cogumelo de entrada”, mas também o são o porcini, o cordyceps, a Amanita muscaria, a juba de leão, o shiitake e o reishi. A “droga” aqui não é a psilocibina, mas a curiosidade e o fascínio pela vida dos fungos.

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Referências

Belasco, W. (2007). Appetite for change: How the counterculture took on the food industry. Cornell University Press.

Binkley, S. (2007). Getting loose: Lifestyle consumption in the 1970s. Duke University Press.

Kirk, A. (2007). Counterculture green: The Whole Earth Catalog and American environmentalism. University Press of Kansas.

Kripal, J. (2007). Esalen: America and the religion of no religion. University of Chicago Press.

Langlitz, N. (2012). Neuropsychedelia: The revival of hallucinogen research since the decade of the brain. University of California Press.

Stamets, P. (2005). Mycelium running: How mushrooms can help save the world. Ten Speed Press.

Stamets, P. (2008, March). 6 ways mushrooms can save the world [Video file].  https://www.ted.com/talks/paul_stamets_on_6_ways_mushrooms_can_save_the_world.

Tsing, A. L. (2015). The mushroom at the end of the world: On the possibility of life in capitalist ruins. Princeton University Press.

Turner, F. (2006). From counterculture to cyberculture: Stewart Brand, the Whole Earth Network, and the rise of digital utopianism. University of Chicago Press.

Esse artigo foi publicado originalmente em Chacruna Institute.
Tradução de Paula Bizzi Junqueira.
Arte de Mariom Luna.

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