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Debates contemporâneos sobre drogas e psicodélicos na 34ª RBA

No final de julho acontecerá a 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, o maior evento de antropologia do país, reunindo uma ampla comunidade de docentes, estudantes, pesquisadoras e pesquisadores em uma intensa programação de quatro dias dedicados ao encontro e ao intercâmbio entre cientistas e pensadores sociais dos cinco cantos do território.

Paula Bizzi Junqueira
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Paula Bizzi Junqueira es maestra en Antropología Social (CIESAS, México) e investiga las intersecciones entre la salud y prácticas espirituales, abordando temas como chamanismo, ontologías relacionales, disciplinas espirituales y salud mental. Paula es la Asistente del Programa Educativo de Chacruna.

Paula Bizzi Junqueira é mestre em Antropologia Social (CIESAS, México) e investiga as interseções entre saúde e práticas espirituais, abordando temas como xamanismo, ontologias relacionais, disciplinas espirituais e saúde mental. Paula é a Assistente do Programa Educativo do Chacruna.

No final de julho acontecerá a 34ª Reunião Brasileira de Antropologia, o maior evento de antropologia do país, reunindo uma ampla comunidade de docentes, estudantes, pesquisadoras e pesquisadores em uma intensa programação de quatro dias dedicados ao encontro e ao intercâmbio entre cientistas e pensadores sociais dos cinco cantos do território.

A RBA é realizada a cada dois anos e promove uma série de conferencias, simpósios, mesas redondas, grupos de trabalho e oficinas sobre as mais diversas temáticas do campo antropológico contemporâneo. Além da troca acadêmica, o encontro proporciona também um espaço de convivência e entusiasmo compartilhado que conta com apresentações culturais, lançamentos de livros e entrega de diversos prêmios.

Organizada pela Associação Brasileira de Antropologia (ABA), a 34ª RBA brinda verdadeiro alento depois de um período marcado por uma enxurrada de crises e incertezas provocadas pela pandemia de Covid-19 e pelo mandato de Jair Bolsonaro. Desde a exacerbação das desigualdades e mazelas sociais, passando pelo deterioramento das instituições públicas brasileiras e pela onda mundial de negacionismo científico e ascenso da extrema direita, testemunhamos cenários que ainda perturbam e inevitavelmente definem a mirada antropológica. 

DESDE A EXACERBAÇÃO DAS DESIGUALDADES E MAZELAS SOCIAIS, PASSANDO PELO DETERIORAMENTO DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS BRASILEIRAS E PELA ONDA MUNDIAL DE NEGACIONISMO CIENTÍFICO E ASCENSO DA EXTREMA DIREITA, TESTEMUNHAMOS CENÁRIOS QUE AINDA PERTURBAM E INEVITAVELMENTE DEFINEM A MIRADA ANTROPOLÓGICA.

Tendo essa conjuntura como pano de fundo, o tema da 34ª RBA será Territórios vivos, corpos plurais: Antropologia e saberes críticos, aludindo às “diferentes lutas sociais e resistências em defesa da vida, dos territórios e dos corpos plurais diante dos contextos de crise e violências vividos e observados no Brasil e no mundo, na contemporaneidade” (trecho retirado da apresentação do evento, disponível em https://www.34rba.abant.org.br/apresentacao). 

A reunião será celebrada presencialmente entre os dias 23 e 26 de julho na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte, e contará com a participação de estimad@s companheir@s do Chacruna. Estarão presentes durante os quatro dias de evento a Cofundadora e Diretora Executiva do Chacruna, Bia Labate (que frequenta regularmente o encontro há mais de duas décadas), o Coordenador do Comitê Comunitário Ayahuasqueiro, Henrique Fernandes Antunes, e a Associada do Programa de Educação, Lígia Duque Platero. Indigenistas cativados pelo saber ancestral em torno às plantas sagradas, representarão o instituto em duas mesas redondas e um grupo de trabalho.

Bia Labate compartilhará a Mesa Redonda 09 com Regina de Paula Medeiros (PUC MINAS), Edward John Baptista das Neves MacRae (UFBA) e Ygor Diego Delgado Alves (UNIFESP) debatendo as diferentes maneiras em que a antropologia vem abordando a questão das drogas no âmbito acadêmico e também fora das universidades, engajando-se no ativismo anti-proibicionista, participando da formulação de políticas públicas e aliando-se a diferentes grupos marginalizados em suas diversas formas de consumo. A mesa é intitulada “A presença da antropologia na discussão sobre perspectiva sociocultural das drogas” e acontecerá no dia 24 de julho, quarta-feira, às 14h.

A Mesa Redonda 37 com o tema “Internacionalização da Ayahuasca e Conhecimentos Indígenas e Tradicionais” acontecerá na quinta-feira 25 de julho às 14h e contará com a participação de Henrique Fernandes Antunes, Glauber Loures de Assis (Solaris), Sandra Lucia Goulart (FCL) e Leonardo Lessin (UFAC).O fio que guia as discussões da mesa são as transformações no campo ayahuasqueiro contemporâneo. Serão abordados temas relacionados à regulamentação da ayahuasca, à difusão das religiões ayahuasqueiras brasileiras ao redor do mundo e às tensões e diálogos em torno à bebida nos contextos interétnicos da contemporaneidade. 

Acompanhada de Frederico Policarpo de Mendonça Filho (UFF), Bia Labate coordena o Grupo de Trabalho 95, intitulado “Saberes plurais em torno do uso de drogas”, presente na RBA a mais de uma década. O GT começa às 8h30 do dia 26/07 (sexta-feira) e reflete sobre a multiplicidade de discursos e práticas em torno às substâncias psicoativas, problematizando diferentes modelos utilizados para classificar e compreender a relação humana com elas. Lígia Duque Platero será debatedora do GT ao lado de Paulo Cesar Pontes Fraga (UFJF) e Rogerio Lopes Azize (UERJ), apresentando também o trabalho “Desafios na expansão contemporânea do consumo das Medicinas da Floresta: Controvérsias interculturais e de gênero”. 

É motivo de muita satisfação e entusiasmo ver os debates sobre as drogas, psicodélicos e enteógenos ganhando terreno fértil no seio da crítica antropológica, imprescindível em meio à acelerada popularização dessas substâncias que, com frequência, permuta o estigma pela ficção simplista da panaceia. 

É MOTIVO DE MUITA SATISFAÇÃO E ENTUSIASMO VER OS DEBATES SOBRE AS DROGAS, PSICODÉLICOS E ENTEÓGENOS GANHANDO TERRENO FÉRTIL NO SEIO DA CRÍTICA ANTROPOLÓGICA, IMPRESCINDÍVEL EM MEIO À ACELERADA POPULARIZAÇÃO DESSAS SUBSTÂNCIAS QUE, COM FREQUÊNCIA, PERMUTA O ESTIGMA PELA FICÇÃO SIMPLISTA DA PANACEIA.

Que seja um espaço de disposição renovada, posicionamentos diligentes e também ânimo espirituoso para remar nessa maré de libertação que, afinal de contas, é o que convoca a tod@s nós. Avanti!

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