A Importância da Voz Indígena na Psychedelic Culture 2025: Resposta à Reportagem do site Metrópoles

Por Instituto Chacruna

O Instituto Chacruna vem a público manifestar seu posicionamento em relação à recente reportagem publicada pelo site Metrópoles, que questionou a participação de Fernanda Kaingáng, diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas, na Conferência Psychedelic Culture 2025 (PCU25), realizada nos dias 29 e 30 de março em San Francisco, Califórnia e organizada pelo Chacruna Institute for Psychedelic Plant Medicines. A reportagem desconsidera a importância da presença de lideranças indígenas em espaços de debate internacional e perpetua uma narrativa que marginaliza e invisibiliza as vozes dos povos originários em discussões essenciais sobre conhecimentos tradicionais e políticas relacionadas ao uso de substâncias psicodélicas.

O renascimento psicodélico tem ampliado a discussão sobre a regulamentação e o uso de plantas psicoativas, mas esse debate não pode ocorrer sem a participação proativa dos povos indígenas que há séculos detêm conhecimentos sobre esses saberes. O Instituto Chacruna reafirma seu compromisso com a valorização e o protagonismo indígena, defendendo que essas lideranças devem estar presentes, não apenas como convidados, mas como agentes fundamentais na formulação de políticas e no desenvolvimento de diretrizes que impactam diretamente suas culturas e seus territórios.

O Instituto Chacruna reafirma seu compromisso com a valorização e o protagonismo indígena, defendendo que essas lideranças devem estar presentes, não apenas como convidados, mas como agentes fundamentais na formulação de políticas e no desenvolvimento de diretrizes que impactam diretamente suas culturas e seus territórios.

A presença de Fernanda Kaingáng na conferência reflete um compromisso maior do Estado Brasileiro com a defesa dos direitos e da autodeterminação dos povos indígenas em um contexto de crescente exploração de seus saberes pelo norte global. O evento possibilitou um espaço de interlocução internacional, permitindo o estabelecimento de novas colaborações, o contato com indígenas da América do Norte, América Central e América do Sul, a troca de experiências sobre desafios e caminhos possíveis diante da crescente mercantilização de saberes tradicionais sobre a flora, o que inclui plantas com propriedades psicoativas. Mais do que um encontro acadêmico, a conferência se apresenta como um espaço estratégico para o avanço de alianças políticas e para o fortalecimento da causa indígena em escala global.

Relações entre a terra e os povos: Mesa Redonda Perspectivas Indígenas, Bioconservação e Alianças, Psychedelic Culture 2025. Ben Collins (moderador), Leila Salazar-López, Fernanda Kaingáng, Andrea Taahaabaah Twitchell, Deenaalee Hodgdon, Joshua Kahn Russell e Domingas Person (tradutora).

A PCU25 contou com a participação de dez representantes indígenas, além da advogada Kaingáng reforçando a diversidade e a amplitude desse protagonismo. Entre os palestrantes, estiveram presentes: Ana Lisbeth Bonilla Carillo (Wixárika/Huichol), Andrea Taahaabaah Twitchell (Diné/Navajo), Deenaaleee Chase Hogdon (Deg Xit’an Dene and Yupik/Sugpiaq), Kanyon Sayers-Roods (Ohlone-Mutsun e Chumash), Leopardo Yawa Bane (Huni Kuin), Lila Lopez Sanchez (Shipibo-Conibo ), Panshin Nima Walter López (Shipibo-Conibo), Osiris García Cerqueda (Mazateco), Regina Randall (Athabaskan) e René Alvarado Martínez (Mazateco). Além dos representantes em pauta, Christine Diindiisi McCleave (Turtle Mountain Anishinaabe / Ojibwe), integrante do Colorado Federally Recognized American Tribes and Indigenous Community Working Group, não pôde participar da conferência de última hora devido a questões de saúde.

Essa representatividade demonstra o compromisso do evento com a inclusão e a valorização das vozes indígenas em um debate global essencial para seus direitos e culturas.

Fernanda Kaingáng e Bia Labate.

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Durante a PCU25, Fernanda Kaingáng participou, na qualidade de especialista indígena na área de conhecimentos tradicionais e recursos genéticos de painéis de discussão sobre temas fundamentais, como reciprocidade indígena, conservação biocultural e a proteção dos saberes tradicionais. A Diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas defendeu na Conferência a necessidade de afirmação de direitos consagrados no cenário internacional, como o consentimento livre, prévio e informado e a repartição dos benefícios, monetários e não monetários pelo uso dos conhecimentos tradicionais e recursos genéticos que integram rituais sagrados e são expressões culturais tradicionais que devem ser protegidas. Esses debates são essenciais para que os povos indígenas possam participar da tomada de decisões que afetam seus territórios, culturas e espiritualidade. As discussões sobre esses temas já ultrapassaram as fronteiras nacionais, e a adequada proteção dos direitos dos povos indígenas requer a ampliação das frentes de diálogo para que suas demandas e posições ecoem nesse debate global. Vale lembrar que sua viagem extrapolou os limites da conferência, assumindo uma maior amplitude a partir de um diálogo no Consulado do Brasil em San Francisco sobre possíveis desdobramentos para a COP-30 da Convenção Quadro sobre Mudanças Climáticas, que terá lugar em novembro, em Belém do Pará. O encontro – que contou com o apoio do Instituto Guimarães Rosa, vinculado ao Consulado do Brasil em San Francisco – não apenas proporcionou um espaço para discutir questões fundamentais para o movimento indígena, mas também contribuiu para o fortalecimento de alianças institucionais com os povos indígenas.

Visita ao Consulado do Brasil em São Francisco. Foto (da esquerda para a direita): Bia Labate, Ronaldo Costa Filho, Fernanda Kaingáng, Luiz Gustavo Betti e Adriana Calabi.

Ao tratar a viagem da diretora do Museu Nacional dos Povos Indígenas de modo superficial, a abordagem da reportagem do site Metrópoles ignora a relevância desse protagonismo e desconsidera os esforços para garantir que as decisões internacionais sobre conhecimentos tradicionais sejam pautadas pelo respeito, pela equidade e pela autodeterminação dos povos indígenas. Além disso, desqualificar a presença de gestores indígenas que integram, de forma inédita, os quadros do Governo brasileiro em um espaço de discussão internacional, apenas contribui para reforçar estruturas de exclusão históricas, perpetuando a marginalização de suas vozes em debates nos quais devem ser protagonistas.

O Instituto Chacruna reafirma sua posição em defesa da representação e do protagonismo indígena nos espaços de formulação de políticas e decisões globais sobre conhecimentos tradicionais e o uso de substâncias psicodélicas, no exercício do princípio da livre determinação dos povos indígenas sobre seu patrimônio cultural material e imaterial.

Arte de Mariom Luna.

O Instituto Chacruna reafirma sua posição em defesa da representação e do protagonismo indígena nos espaços de formulação de políticas e decisões globais sobre conhecimentos tradicionais e o uso de substâncias psicodélicas, no exercício do princípio da livre determinação dos povos indígenas sobre seu patrimônio cultural material e imaterial. É fundamental que os meios de comunicação tratem esse tema com a seriedade e a responsabilidade que ele exige, reconhecendo a importância da participação indígena nesses debates e garantindo que suas perspectivas sejam devidamente consideradas e respeitadas, em atendimento aos objetivos do desenvolvimento sustentável, segundo os quais ninguém será deixado para trás.

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Nota: Este artigo foi publicado originalmente em inglês no site do Chacruna Institute.

Leia a cobertura do Lucid News sobre a Psychedelic Culture 2025, em “Collective Resistance and Resilience at Psychedelic Culture Conference”.

Capa de Karina Alvarez.

Instituto Chacruna

Promovemos a reciprocidade na comunidade psicodélica e apoiamos a proteção das plantas sagradas e das tradições culturais. Impulsionamos a justiça psicodélica organizando conversas críticas e amplificando as vozes de mulheres, pessoas LGBTQIA+, povos indígenas, afrodescendentes e do Sul Global no campo da ciência psicodélica.

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